Reitor confraterniza com atletas no alojamento da delegação do IFBA, em Fortaleza |
Sem uma prótese adequada para a prática esportiva, Lucas Deyner, de 17 anos, pratica
o voleibol com o auxílio de uma muleta atada ao coto da perna direita, amputada
após um atropelamento ocorrido quando ele tinha apenas cinco anos de idade.
"Foi uma honra imensa ter recebido a tocha das mãos do
Pedro e acendido a pira", declara o aluno do segundo ano de eletromecânica
do IFBA de Paulo Afonso, referindo-se à emocionante cerimônia de abertura dos JIFBA, realizada em agosto, em Simões Filho. Pedro Afonso, que entregou a tocha Lucas, aluno do campus de
Ilhéus, também é amputado.
Estudante do quarto ano de eletrônica do campus Salvador, Robson dos Santos Alves, 23, ficou com a terceira colocação no tênis de mesa e com o lugar mais alto do pódio na prova de jogos eletrônicos, modalidade Fifa Soccer. "Quando recebi a medalha de ouro, subi no pódio e vi todos aplaudindo na língua de sinais, fiquei muito emocionado", relata Robson, que é surdo e conta com o auxílio de uma intérprete de sinais para realizar os estudos.
Estudante do quarto ano de eletrônica do campus Salvador, Robson dos Santos Alves, 23, ficou com a terceira colocação no tênis de mesa e com o lugar mais alto do pódio na prova de jogos eletrônicos, modalidade Fifa Soccer. "Quando recebi a medalha de ouro, subi no pódio e vi todos aplaudindo na língua de sinais, fiquei muito emocionado", relata Robson, que é surdo e conta com o auxílio de uma intérprete de sinais para realizar os estudos.
Lucas Deyner (centro) durante partida válida pelos JIFBA |
Ex-aluno e professor do IFBA, Renato conhece a luta de Lucas, Pedro, Robson e outros 120 alunos com deficiência física do IFBA contra as limitações impostas pelo preconceito e pelo próprio corpo ao longo de sua vida estudantil e acadêmica. Com uma atrofia na perna direita decorrente de paralisia infantil, o ex-aluno e ex-professor da instituição defende, no entanto, que para serem realmente integradores, os Jogos não podem ceder à lógica da segregação contida na divisão entre modalidades olímpicas e paraolímpicas.
Jogo de basquete em cadeiras de rodas válido pelos JIFBA |
A alternativa a este modelo foi colocar atletas que não tem
deficiência para disputar em condições idênticas às dos deficientes. A primeira
experiência nesse sentido foi o jogo de basquete em cadeiras de rodas reunindo
competidores com e sem deficiência, disputado nos JIFBA 2018. "A ideia é
justamente chamar a atenção para a necessidade de se tratar as pessoas com
deficiência de forma horizontal e não de cima pra baixo", justifica o
reitor, que pretende replicar a experiência na próxima edição dos JIFBA com
atletas videntes e cegos disputando juntos uma partida de futebol, todos
vendados.
O IFBA defende que estes conceitos sejam aplicados também à edição de 2019 da
etapa nacional dos JIF, que será disputada em Salvador. "Sabemos que há
uma resistência muito grande no Conselho Nacional (CONIF), mas insistimos
quanto à importância de incorporar ao xadrez os jogos eletrônicos e o dominó
para permitir a participação daqueles que não têm aptidão física para disputar outras
modalidades", pontua Renato.
INTEGRAÇÃO
A prática esportiva enquanto instrumento de integração de uma instituição multicampi passou a ser viável a partir de meados de 2014, quando, na gestão de Aurina Oliveira Santana, o IFBA recebeu o aporte de R$ 27 milhões em recursos do MEC para construir e equipar ginásios poliesportivos em 12 campi.
No meio desse processo, já havia a reivindicação de muitos professores de educação física do interior para que seus alunos também pudessem representar o IFBA nos jogos regionais e nacionais, direito até então exclusivo aos estudantes do campus de Salvador.
Em 2015, em uma polêmica deliberação, o IFBA decidiu não participar dos JIF a fim de organizar uma seletiva capaz de incluir todos os campi da instituição: assim nasciam os JIFBA, um projeto construído a muitas mãos e que envolveu a participação de profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, como pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, e que teve na figura da chefe de comunicação e professora do curso de eventos Liz Rodrigues Cerqueira uma de suas maiores articuladoras.
"Saímos da condição de inexistência para construção de
um evento esportivo democrático e amplo, e com foco em utilizar o esporte como
bem cultural acessível a todos, independentemente da habilidade ou condição
física", explica Micheli Venturini (foto), chefe do Departamento de Ações de
Cultura, Esporte e Lazer do IFBA, viculado à Pró-Reitoria de Extensão (Proex).
"Para nós esse projeto se tornou fundamental na
perspectiva do fortalecimento da pratica esportiva no IFBA de Porto Seguro",
atesta o professor de educação física Ricardo Rodrigues Mendes.
Ex-diretor do campus Porto Seguro, Ricardo relata que o processo de dotação de infraestrutura e mão-de-obra qualificada para a prática esportiva teve efeito direto na qualidade de vida dos alunos, que saíram do quase absoluto sedentarismo para abraçar as realizações de um professor acostumado a ir muito além de suas atribuições.
Ricardo criou juntamente com um aluno bolsista em tecnologia
um placar eletrônico acoplado a uma TV (foto), investiu R$ 314 para criar um par de
campainhas eletrônicas para pedidos de tempo e substituições no vôlei (no
mercado um par desse equipamento não custa menos de R$ 2,5 mil) e utilizou
restos de madeira das obras do ginásio para fazer mesas do tênis de mesa.
Mas a legado que ele relata com maior orgulho não é uma obra física e sim comportamental: o fair-play esportivo. "Criamos nos jogos que disputamos com os campus de Ilhéus e Jequié a cultura de o jogador se acusar quando a bola resvala no bloqueio dele. É a coisa mais linda do mundo ver o árbitro perguntando e o jogador confirmando aquele toque que tira o ponto do time dele. Não é que esse atleta não queira ganhar, é que ele quer ganhar com justiça", declarou.
Mesmo os alunos de Salvador, que perderam a exclusividade de
representar a Bahia, passaram a ver muito mais benefícios que prejuízos com a
criação dos JIFBA. Julia Polena Costa, 19, aluna do quarto ano de edificação na
capital, participou das três edições do evento. "De uma competição para outra, quem a gente estava revendo não eram adversários, mas amigos. A prova disso foi
que duas semanas depois da última edição a nossa equipe de handebol estava viajando
pra Jacobina a convite das meninas do time de handebol de lá", exemplifica.
EDUCAÇÃO Um dos preconceitos que ainda paira sobre a atividade esportiva é a de que ela suga as forças que o aluno precisa para poder realizar os estudos. Embora reconheçam que treinar e competir exige tempo e dedicação já escassos para quem estuda em uma instituição federal profissionalizante conhecida pelo alto nível de exigência, nenhum dos alunos entrevistados admite que uma coisa atrapalhe a outra. "Pelo contrário, eu acho que se não fosse o esporte seria mais pesado", garante Julia. "Quando nós treinamos, competimos e viajamos juntas, criamos uma intimidade que é propícia também pra tirar dúvidas de outras disciplinas. Afinal, ninguém tira duvida com quem não tem intimidade", argumenta.
Segundo Micheli Venturini, o esporte não deve e nem pode atrapalhar o desempenho acadêmico dos estudantes. "Uma das condições para o aluno poder representar a instituição nos Jogos é ter no mínimo a média exigida pelo IFBA, que é a nota 6. Quem não estiver nessas condições, não pode competir".
DESEMPENHO
Ao longo dos últimos três anos desde a criação dos JIFBA, os
números mostram que o objetivo de ampliar e democratizar a participação dos
atletas/alunos baianos vem sendo alcançada.
Se em 2014, quando apenas os estudantes de Salvador
representavam a instituição, a Bahia enviou 70 atletas aos JIF, para disputar 6
modalidades e conquistar cinco lugares no pódio, em 2018 a Bahia enviou a Natal
155 atletas de 17 campi, que participaram das 11 modalidades existentes e
subiram ao pódio 19 vezes.
Os sete alunos medalhistas de ouro em Natal representaram o
IFBA na etapa nacional dos Jogos dos Institutos Federais, realizada em
outubro, no Ceará: a corredora Maria Luiza Marques foi recordista nos 200m
feminino, com o tempo de 26seg9. O judô terá quatro representantes: Luanderson
Santos Neres (Super Ligeiro), Reinam Carneiro (Meio Leve), Fernando Viana
(Leve) e Gabriel Régis (Meio Médio).
Na natação (FOTO), Felipe Lemos da Rocha disputará os 50m livre e Kelvin dos Santos Lima Cruz, os 200m livre."Pratico natação desde os 5 anos de idade, mas esta foi a primeira vez que eu saí da Bahia pra participar de uma competição oficial", relata Felipe, 16, aluno de informática no campus de Jequié, que além do ouro nos 50m, faturou a prata nos 100m livre e o bronze nos 50m borboleta e no revezamento 4x100m, tornando-se o recordista recordista de medalhas da delegação baiana.
O projeto de educação, inclusão e integração pelo esporte entra na sua fase de maturação e o desempenho já poderá começar a ser avaliado a partir de 2019, quando completa quatro anos de sua implantação. Mas os resultados que se esperavam já estão sendo alcançados.
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